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Vinho & Mesa :: Ceviche e sauvignon blanc

O ceviche preparado pelo Marcel Gussoni, que também atuou como fotógrafo.
O ceviche é um prato de origem andina, patrimônio cultural de vários países como o Peru, Chile, Colômbia e Equador. Consiste basicamente num marinado de peixes de carne branca em suco de limão ou alguma outra fruta cítrica, como laranja ou mexerica, acompanhados por cebola roxa, pimenta vermelha, temperos (coentro, salsinha), milho etc.Por ser um prato refrescante, ideal para dias de calor, encontrou muitos admiradores no Brasil, até porque não tem grande complexidade para o preparo e pode ser feito com peixes de água doce também, além de não custar muito.Então, quando fomos convidados para um jantar na casa do Marcel Gussoni – e pudemos conhecer sua adorável família – pensei desde logo que um Sauvignon Blanc seria uma boa pedida, uma combinação clássica apontada em qualquer livro sobre harmonização entre vinho e comida.Mas porque esse vinho é apontado como ideal?

Primeiro, porque existe uma regra intuitiva à qual não damos muita atenção: vinhos brancos combinam bem com comida de cor mais clara. Você já tinha parado para pensar nisso? Em casos assim os tintos estão praticamente descartados.

Segundo, porque a acidez do prato, tão marcante por conta do suco do limão, pede um vinho com acidez alta, como os Sauvignon Blanc de algumas regiões mais frias da Nova Zelândia ou do Chile, como Casablanca, San Antonio ou Leyda. Esses vinhos também possuem aromas e sabores condimentados, vegetais e cítricos, combinando perfeitamente com o prato.

A Viña Matetic é uma vinícola sediada no Vale de San Antonio. Seus vinhos sofrem influência do Pacífico e essa linha Corralillo tem vinhos com preços atraentes, abaixo dos R$50.
Sabendo do prato e tendo em mente essa harmonização comprei um vinho chileno de San Antonio, de uma vinícola que conheço e respeito bastante, a Matetic. É um vinho na faixa dos R$ 45-50 e quando provado sem o prato revelou-se um vinho de acidez marcante, com aromas e sabores vegetais típicos, folha de tomate, aspargos etc. Bebido com o prato caiu bem, mas passou um pouco por cima da comida, não sendo um resultado tão bom quanto imaginei.E por que isso aconteceu? Porque a receita do ceviche contou com um toque de criatividade do Marcel, que imaginou que a acidez bem pronunciada, o coentro e a cebola roxa talvez não fossem bem aceitos por alguns dos convidados. Resultado: a acidez do vinho era alta para a elaboração, que levou leite de côco e metade do suco de limão normalmente usado, deixando o ceviche mais “adocicado”. O coentro foi substituído por cebolinha e estragão.
Os vinhos Dos Fincas, da Viña Amalia, têm boa relação custo x benefício. Alguns deles receberam ótimas notas de críticos e publicações especializadas, custando menos de R$30.
Para minha surpresa, um Sauvignon Blanc argentino, de Mendoza, acabou se saindo melhor que o chileno, uma prova de que na prática a teoria pode ser outra.Os vinhos com essa uva, elaborados na famosa região da Argentina tendem a ter menos acidez e serem mais frutados. Em boca as notas cítricas lembrando maracujá fizeram um casamento perfeito entre o vinho e o ceviche menos ácido e sem o sabor marcante do coentro.E pra ficar ainda melhor: foi comprado pelo Marcel a um preço muito bom, algo em torno dos R$30. Aliás, os vinhos da Viña Amalia estão numa faixa de preços acessível e com boa qualidade média.Foi uma ótima noite de experimentações, mas ainda melhor em razão das companhias em torno da boa mesa.

Saúde a todos!

Gil Mesquita

Professor universitário em cursos jurídicos, enófilo apaixonado, mantém desde 2006 o blog Vinho para Todos (www.vinhoparatodos.com).
www.saborsonoro.com.br